RESUMO: A pesquisa sobre juventude rural por muito tempo considerou a migração rural-urbana, os processos sucessórios na agricultura familiar e a masculinização do campo enquanto fenômenos que constituíam as principais problemáticas que afetavam os jovens que viviam a realidade rural brasileira. Apesar de os estudos falarem sobre os aspectos relacionados à diversidade que marca a juventude rural, pouco se sabe sobre as especificidades presentes nas diferentes situações juvenis, como por exemplo, a dos jovens rurais que vivem na Amazônia, uma vez que a maioria dos estudos estão concentrados nas regiões sul e sudeste. Sabe-se ainda que a juventude rural é um campo de estudos consolidado, mas que ainda é preciso aprofundar a abordagem de outros temas, tais como a relação do ensino superior, em que houve uma expansão do acesso de jovens rurais por meio de políticas públicas educacionais, mas a produção de conhecimento sobre o tema ainda é incipiente. Para cumprir esta lacuna de pesquisa, este trabalho tem como objetivo geral entender como a inserção no ensino superior afeta o modo de vida de jovens ribeirinhos. Os objetivos específicos são: a) caracterizar o modo de vida de jovens ribeirinhos; b) compreender os motivos pelos quais os jovens ribeirinhos buscam a inserção no ensino superior; c) identificar impactos que o modo de vida sofre após a inserção dos jovens ribeirinhos no ensino superior; e d) analisar as consequências da inserção universitária na sociabilidade, trabalho e práticas culturais dos jovens ribeirinhos. Como base teórica, apoia-se nos estudos de juventude e educação rural, trazendo ainda a perspectiva do acesso ao ensino superior. O projeto pauta-se na teoria social crítica marxista, pois o método dialético propõe compreender o movimento do real a partir de uma concepção materialista da história. Pretende-se realizar um estudo de caso com jovens ribeirinhos que cursam ensino superior em duas universidades, sendo uma pública com ensino na modalidade presencial e uma privada com ensino na modalidade à distância, ambas localizadas no município de Breves, Arquipélago do Marajó. A coleta de dados envolverá a aplicação de questionário, análise documental, observação participante e não-participante e entrevistas semi-estruturadas com jovens ribeirinhos, gestores (um de cada universidade) e membros das comunidades tradicionais ribeirinhas. Os dados serão analisados e interpretados seguindo uma perspectiva a partir da análise de conteúdo. Como contribuição, espera-se que este estudo traga à baila a diversidade da categoria juventude ribeirinha e demonstre as transformações pelas quais o seu modo de vida passa após a inserção no ensino superior, com a produção de impactos que geram consequências sobre a sua permanência ou não nas comunidades tradicionais ribeirinhas, a depender do tipo de conhecimento ao qual podem ter acesso na universidade. Os resultados poderão ainda funcionar como subsídio para as políticas públicas educacionais no Marajó, no que tange a identificação de demandas sobre a necessidade de ações específicas voltadas para o fomento à oportunização de inclusão no nível superior, considerando que historicamente jovens ribeirinhos foram alijados do usufruto do direito à educação, bem como quanto a permanência e posterior conclusão deste grau de ensino.